segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Minhas opiniões - Tops Sul Americanos

Mais uma degustação excelente na Wine Street. E muito interessante foi o fato de que boa parte dos tops sul americanos degustados não caíram no lugar comum de muitos vinhos do Novo Mundo, com a fórmula já banalizada de explosão de frutas, madeira presente e álcool em abundância.

Alguns, como o Casa Real (sempre de altíssima qualidade) e o Chadwick, já se revelaram como chilenos no nariz, enquanto o Don Melchor e (especialmente) o Almaviva trouxeram um estilo mais elegante, com referências aos Bordeaux. Pena termos tido o desfalque de última hora do Montes Alpha M e de não termos conseguido um Clos Apalta nas safras desejadas, para ver onde se posicionariam...

Entre os argentinos, destaque para o Catena Estiba Reservada, que apesar de 100% CS, se mostrou bastante elegante, certamente um vinho (ainda) de boa relação custo benefício. O CARO não surpreendeu nem comprometeu, mas o Yacochuya mostrou sinais claros de evolução (era um 2001), caindo bastante durante a prova. Coincidence or not, 90% Malbec.

Mas, por outro lado, o grande destaque da degustação, em minha opinião, foi o Almaviva. Mesmo às cegas já se mostrava um vinho de elevadíssima qualidade, confirmando a opinião daqueles (eu incluído) que o apontam como o melhor vinho da América do Sul. Muito equilibrado, boa acidez, taninos macios mas presentes, persistência longa e um olfativo muito complexo. Realmente um vinho para entrar em uma degustação mundial de corte bordalês (ou quase, já que substitui a Merlot pela Carmenere) e fazer bonito...

Quero mais....

Abraços

sábado, 18 de setembro de 2010

Tintos Top da America do Sul

Na última 5ª feira, dia 16, estivemos no Rosmarino, para uma excelente degustação de Tintos Top da America do Sul. O menu estava excelente, e os vinhos realmente fantásticos

O menu, escolhido pelo nosso confrade Paulo Sampaio, estava ótimo e harmonizou de forma perfeita com os poderosos tintos degustados.. 

Couvert
Mini pães, grissini, pão sueco, pão integral com nozes, chèvre al huille e relish de pepino

Entrada
Salada verde com tomatinhos cereja, mussarelinha de búfala e brie quente ao mel e amêndoas

Prato Principal
Picanha de cordeiro grelhada com gateau de mandioquinha, ou
Risoto de cogumelos mistos

Sobremesas
As já tradicionas Pastiera de Grano, Tiramisù, Bavarese de Chocolate, Tarte Tatin, Creme Brulée e Torta de Maçã.

A comida e o local, como de costume, estavam excelentes.

A degustação contou com sete vinhos, sendo quatro Chilenos e tres Argentinos, com níveis alcoólicos variando entre 14 e 14,5%, exceto pelo Yacochuya que apresentou 16%. Os chilenos eram todos do Vale do Maipo, e os argentinos, dois de Mendoza e um de Salta.


A seguir uma breve descrição dos vinhos degustados:

Yacochuya 2001
Produtor: Yacochuya
País/Região: Argentina/Salta
Variedades: 90% Malbec e 10% Cabernet Sauvignon
Graduação alcoolica: 16%

Viñedo Chadwick 2003
Produtor: Vina Errazuriz
País/Região: Chile/Puente Alto, Maipo
Variedades: 100% Cabernet Sauvignon
Graduação alcoolica: 14%

Don Melchor 2003
Produtor: Concha y Toro
País/Região: Chile/Puente Alto, Maipo
Variedades: 100% Cabernet Sauvignon
Graduação alcoolica: 14.5%

Santa Rita Casa Real 2002
Produtor: Vinã Santa Rita
País/Região: Chile/Valle de Maipo
Variedades: 100% Cabernet Sauvignon
Graduação alcoolica: 14%

Almaviva 2001
Produtor: Vina Almaviva
País/Região: Chile/Puente Alto, Maipo
Variedades: 70% Cab. Sauvignon, 27% Carmernere e 3% Cab. Franc
Graduação alcoolica: 14.2%

CARO 2003
Produtor: Bodegas Caro
País/Região: Argentina/Mendoza
Variedades: 60% Cabernet Sauvignon e 40% Malbec
Graduação alcoolica: 14%

Estiba Reservada 2004
Produtor: Catena Zapata
País/Região: Argentina/Lujan de Cuyo
Variedades: 100% Cabernet Sauvignon
Graduação alcoolica: 14%

Vinhos degustados

 Os vinhos degustados eram de grande qualidade, sendo que alguns deles já apresentavam excelentes aromas de evolução. O painel apresentou um nível bastante equilibrado, com as médias apresentando pequena variação. O vinho que ficou em último lugar foi o Yacochuya 2001, que se mostrou curto e pouco aromático, ficando em último na escolha de tres confrades.

O Campeão da noite, foi o Magnífico Santa Rita Casa Real 2002, que por uma diferença de 1 décimo ganhou do Almaviva 2001, que ficou em segundo lugar. Entretanto, o Almaviva apresntava aromas muito mais interessantes do que o campeão. O Casa Real foi escolhido o melhor vinho por um confrade e o segundo melhor por outros dois. Já o Almaviva, foi escolhido o nelhor vinho por 3 confrades.









Vejam os resultados completos abaixo.


 

No nosso próximo encontro, no dia 21 de Outubro, quando degustaremos Syrah vs Shiraz. Até lá....

sábado, 4 de setembro de 2010

Os Super Vinhos da América do Sul

Especialistas dizem que o universo do vinho está dividido entre Novo e Velho Mundo. Conheça os Grands Crus Classés produzidos por nossos vizinhos

por Luiz Gastão Bolonhez

Muitas pessoas pensam que os vinhos chilenos e argentinos só fazem sucesso no Brasil e que são simples e baratos. Hoje, temos na América do Sul desde vinhos com custo acessível até verdadeiras obras-primas. O conceito "super vinho" nasceu na Toscana, Itália, na década de 70. Nessa época, muitos produtores da região romperam com o consórcio local, que não permitia o uso de uvas "estrangeiras". Mais de vinte anos depois, os americanos criaram o conceito Super Tuscan. Os "Super Toscanos" são quase sempre vinhos à base da uva Cabernet Sauvignon e, na maioria das vezes, custam mais de US$ 100 a garrafa. Aqui no Brasil temos algumas que chegam a custar US$ 900.

Esse contágio mercadológico chegou recentemente ao Chile e algumas publicações criaram o Super Chilean Wine. Prevendo essa tendência entre nossos vizinhos, ADEGA vai além e lança o conceito dos vinhos Super Sul-Americanos, englobando os rótulos TOP dos produtores da América do Sul. Antigamente, haviam poucos vinhos produzidos nesta região acima de R$ 100. Hoje há mais de 100 rótulos que passam desse valor. Alguns chegam a custar R$ 500.

Tudo começa no Chile

Em 1987, a vinícola Concha y Toro decidiu fazer um vinho de alta gama proveniente de uvas de solo chileno. Nascia o Don Melchor, um Cabernet Sauvignon elaborado com uvas provenientes do Vale do Maipo, nas cercanias da capital Santiago, mais precisamente em Puente Alto. O que impressiona nesse vinho é sua regularidade. Após 1993, os Don Melchor´s sempre apresentaram muita qualidade.

Essa visão empreendedora partiu de Eduardo Gilisasti e Alfonso Larrain, dois dos principais acionistas da hoje líder em volume de litros de vinhos produzidos no Chile, e que está entre as cinco maiores vinícolas do mundo.

Esse foi o ponto de partida para outras vinícolas do país começarem a colocar, no papel, seus projetos de produzir vinhos premium.

A Argentina e o Uruguai despertam para os vinhos premium

Para a felicidade dos enófilos dos quatro cantos do mundo, a Argentina também despertou para esse conceito. Nicolas Catena Zapata colocou no mercado seu vinho premium, o Catena Zapata Estiba Reservada. Desde a safra de 1991, esse vinho é sempre destaque entre os grandes vinhos do País. Com o tempo, a demanda por vinhos premium intensificou-se e até o Uruguai entrou na briga, produzindo vinhos de garage.

Desse país, o mais antigo ícone é o Prelúdio 1995, produzido pela família Deicas, em Canelones, nas imediações de Montevidéu. Uma obra de arte que tem em seu blend a predominância da uva Tannat, a variedade emblemática do País.

Joint-ventures e parcerias dão impulso à produção de super vinhos

O solo chileno é tão promissor que foi lá que as joint-ventures começaram a atrair capital de Países com tradição vitivinícola. O primeiro grande projeto surgiu da união de Alfonso Larrain, da Concha y Toro, com Madame Philippine de Rothschild, proprietária do Chateau Mouton Rothschild, em Bordeaux, na França. Os dois produtores decidiram criar um vinho ícone mais significativo do que o próprio Don Melchor, com uvas provenientes da mesma terra. A iniciativa é até hoje uma referência em tecnologia, inovação e vinho de qualidade em terras sul-americanas.

O resultado do projeto é o Almaviva, um dos precursores da "alavancagem" do vinho premium chileno ao redor do mundo.

Quase simultaneamente ao desenvolvimento do projeto Almaviva, Aurélio Montes, da Viña Montes, preparava o seu vinho top chamado Montes Alpha M, continuação bem sucedida da linha Montes Alpha. Ainda no Chile, Robert Mondavi, no auge de seu sucesso, investiu no projeto Seña em parceria com o empresário local, Eduardo Chadwick.

O Seña teve seu lançamento na safra 1995, um ano antes da grande tacada da Concha y Toro no projeto Almaviva.

É um vinho que até hoje está entre os melhores produzidos no Chile, mesmo em safras difíceis. O Seña 2001 é o melhor exemplar já produzido e está a altura de qualquer vinho à base da uva Cabernet Sauvignon de qualquer canto do mundo.

Em 1999, Chadwick lançou seu próprio vinho premium, o Viñedo Chadwick, cujas uvas vêm de uma micro-região ao lado do projeto Almaviva. São vizinhos de muro. O projeto atual do empresário é transformar esse vinho no número 1 do País. Para isso, decidiu colocar o Chadwick e o Seña em uma degustação às cegas ao lado de ícones de Bordeaux, como Margaux e Latour. A prova ocorreu em 2004, em Berlim, e ficou conhecida como Cata de Berlim, posteriormente repetida em outros países do mundo, como Japão e Brasil.

No Chile, além dos investimentos de mega empresários, a presença de excelentes profissionais do vinho foi fundamental para essa arrancada. É o caso do chileno de nascença (pai francês e mãe chilena), Patrick Valette, cujos familiares foram proprietários do hoje badaladíssimo Chateau Pavie, em Saint Emilion, na França. Há quase uma década, Patrick produz o espetacular vinho El Principal. A safra 1999 é espetacular e quase imbatível em degustações às cegas. O enólogo comprou terras em Apalta, uma das melhores sub-regiões de Colchagua, ao sul de Santiago, onde há parreiras muito antigas (80 anos) de Carmenére e outras variedades. E lançou, na safra de 2003, outro vinho premium, denominado Neyen.

Essas joint-ventures continuam a todo vapor. Ultimamente houve grandes investimentos no Chile como o projeto Altair, uma parceria entre os proprietários do Chateau Dassault, de Bordeaux, e a gigante Viña San Pedro, a segunda maior vinícola do Chile. Uma adega sensacional para produzir um vinho ícone de mesmo nome, na região de Cachapoal, ao estilo Almaviva.

Com o tempo, novas regiões foram exploradas e vales, antes quase desconhecidos, começaram a produzir maravilhas. O caso de maior destaque é o da vinícola Matetic, no novíssimo Vale de Leyda (Vale de Santo Antonio, ao sul de Valparaiso), que, logo nas primeiras safras, produziu o melhor Syrah chileno. No mesmo vale, também são produzidos os melhores Pinot Noirs do País, considerados rivais dos vinhos neozelandeses dessa variedade. Atualmente a Casa Marin é responsável por colocar no mercado os melhores Pinot Noirs da América do Sul. A tendência é que eles ganhem destaque no mundo.

Os franceses do renomadíssimo Chateau Lafite Rothschild, liderados pelo empresário Eric de Rothschild, iniciaram, em 1988, uma investida no País. Para comemorar os dez anos da vinícola no Chile, lançaram o vinho premium Le Dix de Los Vascos, talvez o que mais apresente o estilo Velho Mundo dentre os TOP chilenos. O Le Dix 2001 é um dos vinhos mais herbáceos dos premiuns chilenos. Eric não parou por aí e, em 2000, lançou, com Nicolas Catena, o seu vinho TOP na Argentina, o CaRo (Catena & Rothschild), um dos rótulos argentinos de maior procura nos últimos anos.

Na Argentina, houve nos últimos anos uma verdadeira enxurrada de novos produtores provenientes da Europa e dos Estados Unidos. Da Europa, uma forte presença de enólogos e investidores. Da Itália, Alberto Antonini, ex-enólogo chefe de Piero Antinori, tornou- se consultor de inúmeras vinícolas em terras portenhas. A família Masi, do Veneto, Itália, investiu pesado e comprou muitas terras na Argentina. Com projetos inovadores, eles lançaram um vinho chamado CorBec, um blend de Corvina (uva clássica do Veneto e espinha dorsal dos Amarones) com a uva emblemática da Argentina, a Malbec.

A crítica, de modo geral, está elogiando esse vinho inovador produzido a partir de uvas 'passificadas', como são feitos os Amarones.

Noemi Cinzano, do conglomerado de mesmo nome, comprou terras na Patagônia e começou a produzir o mais denso vinho à base da uva Malbec na Argentina. O Noemía é o vinho mais caro de nosso continente. Da França, veio o consultor Michel Rolland, que, no Chile, foi o idealizador do Clos Apalta, da Vinícola Lapostole, um dos vinhos premium do País mais disputados e talvez o mais cobiçado atualmente nos EUA. Na Argentina, Rolland foi além de sua consultoria e investiu em terras, fundando, em conjunto com empresários franceses, o Clos de Los Siete, onde produz vinhos muito concentrados ao seu estilo, ou seja, robustos, encorpados, com muita fruta e madeira. Dentre os destaques de Rolland na Argentina estão os Monteviejo, em parceria com a vinhateira francesa, Catherine Verge, proprietária do Chateau Le Gay em Pomerol.

Ainda da França, a gigante LVMH tem no projeto Terrazas uma grande aposta e produz vinhos cada vez melhores. Na categoria premium, o destaque da empresa é o projeto Cheval des Andes, com a supervisão de Pierre Lurton, o enólogo responsável pelo ícone Chateau Cheval Blanc. O 2002 é muito especial e o primeiro grande vinho de Pierre na Argentina. Da Espanha vieram os Fournier, da Ribera de Duero, que construíram no Vale do Uco uma vinícola de padrão internacional. Seus vinhos denominados Alpha Crux estão entre os melhores premium da Argentina.

Além de estrangeiros, há alguns destaques regionais na Argentina que decidiram há algum tempo produzir grandes vinhos. Susana Balbo (enóloga) e seu esposo Pedro Marchwesky (viticultor) deixaram a Bodega Nicolas Catena Zapata para desenvolverem um projeto solo. Juntos lançaram a vinícola Domínio del Plata. Susana tem como seu super vinho o poderoso Briso, que ela mesma denomina de Ultra-Premium. Seu marido lançou, em 2004, o BenMarco Expressivo.

Esse vinho, delicioso e muito perfumado, foi um dos destaques de nosso último Enogoumert publicado na edição nº 17.

Na Argentina, também vale destaque a Bodega Nieto Senetiner, que lançou, no meio da década de 90, seu super vinho à base da uva Malbec batizado de Cadus Malbec. Um dos mais clássicos vinhos da Argentina e já considerado, pela crítica inglesa Jancins Robinson, o melhor Malbec do mundo.

ADEGA teve o privilégio de organizar uma degustação com 36 vinhos premium do Chile e da Argentina. Os chilenos estavam em maior número, com 22 vinhos. Dessa vez, eles se saíram melhores na avaliação. Na seção Cave desta edição, estão em destaque 22 dos mais estrelados vinhos Super Sul-Americanos. Que essas comparações sirvam sempre de estímulo ao mundo vitivinícola. ADEGA torce para que a saudável competição entre Chile e Argentina esteja sempre focada na melhoria crescente da qualidade. E mais, que a 'briga' prossiga, já que os beneficiados somos nós, os amantes de bons vinhos. Viva a América do Sul e salud!

Fonte: Revista ADEGA 18ª edição